quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Por Rau Ferreira - Estórias de Botijas



Antigamente não havia bancos e as pessoas escondiam as suas riquezas com medo dos bandoleiros que assolavam a região. O costume era encher uma botija – espécie de moringa – com moedas de ouro e de prata e enterrá-las em um lugar a salvo dos inimigos do alheio. 

A prática era seguida por fazendeiros e também pequenos comerciantes ocorre que passado algum tempo o proprietário morria e a família muitas vezes desconhecia da existência daquele tesouro que permanecia oculto.

Lendas e crendices populares giram em torno das riquezas enterradas na terra. Estórias de almas, mal assombros e aparições fazem parte desta cultura. Todavia, existem certas regras a serem seguidas: além de não poder levar ninguém, aquele que fosse retirar deveria fazer em sufrágio da alma penada sem qualquer intenção gananciosa. Aconselha-se traçar a estrela de Salomão sobre o lugar para afastar os maus espíritos.

Lembro com satisfação que minha avó materna falava de uma alma que lhe havia dado uma botija. A indicação era uma casa antiga que pertenceu a uma fazendeira no Sítio Cabeço. Ali, com exceção do telhado, portas e janelas, tudo era de pedra. Os batentes eram enormes e havia um sótão onde os escravos dormiam. A “visagem” teria dito que antes da botija encontraria um garfo e uma faca cruzados.

Ao acordar do sonho ela contou tudo para o meu avô que decidiram se aventurar juntos (este foi o grande erro). No dia seguinte, por volta da meia noite, os dois se dirigiram ao local e começara a cavar; vultos, sons estridentes e coisas do tipo foram ouvidas. Meu avô encontrou o primeiro sinal, mas ao retirarem o pote de barro tudo se transformou em palha de milho bem verdinho. 

José Soares – o poeta repórter – chegou a fazer um cordel sobre este tema. Este poeta popular relembra um fato semelhante ocorrido em Campina, onde um seu vizinho sonhou com uma alma que lhe fez recomendação para desenterrar o tesouro. Contudo, o homem contou a sua mulher e foram os dois juntos até o lugar prescrito; ao iniciar as escavações, ouviu-se uma voz distante chamando o seu nome e, ao virar-se para ver quem era o buraco logo se fechou e encontraram apenas carvão e pedras. O assunto foi matéria do Jornal do Comércio em 22/05/1977.

Em Esperança há notícias de botijas que foram retiradas de casas velhas e lojas comerciais. Segundo a tradição, um homem estava fazendo uma reforma na sua residência quando os pedreiros toparam com uma parece fofa; a marreta logo descobriu uma superfície arredondada. Percebendo aquele inusitado objeto, o proprietário haveria dispensado os trabalhadores no meio do dia e sozinho retirado a panela com algumas moedas de ouro.


Fonte: Rau Ferreira 

 (*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UEPB e autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011). Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem. 









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