Mortes provocadas pelo alcoolismo aumentaram 148,84% nos
últimos 14 anos na Paraíba; só em 2012 foram 99 pessoas mortas.
Entre janeiro a dezembro do ano passado, o alcoolismo matou
107 pessoas na Paraíba.
O número foi maior até que os óbitos causados pela Aids, uma
doença considerada grave e que ainda não tem cura. Em 2012, ela tirou a vida de
99 paraibanos. Os dados são do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) da
Secretaria de Estado da Saúde (SES).
Ainda de acordo com o SIM, as mortes provocadas pelo consumo
excessivo de álcool aumentaram em 148,84% nos últimos 14 anos.
A quantidade saiu de 43 casos anuais, em 1999, para 107, em
2012. No acumulado dos 14 anos, 1.415 moradores da Paraíba já perderam a vida
em decorrência da bebida. A mortalidade é 10,98% maior em relação à causada
pela Aids, que matou 1.275 indivíduos no mesmo espaço de tempo.
Para o policial federal aposentado Deusimar Guedes, que
realiza há 30 anos estudos e ações de combate ao uso das drogas, esses dados
não são novidade. Ele destaca até que as mortes causadas pelo alcoolismo são
subnotificadas. “Esses dados coletados pela Secretaria de Saúde só dizem
respeito aos óbitos causados pelas consequências diretas, como cirroses e
outras doenças derivadas do consumo do álcool. Não estão contabilizadas as
mortes que tiveram o álcool como agente indireto, como os acidentes de
trânsito, os homicídios e os suicídios”, conta.
“Se tudo isso fosse contabilizado, com certeza a mortalidade
do alcoolismo iria superar e muito os índices de mortes provocados por muitas
doenças”, completa.
O pesquisador observa que a tendência é que a situação se
agrave ainda mais, por causa da ausência de campanhas de prevenção com relação
ao álcool. “No Brasil, existe uma cultura de consumir a bebida alcoólica. E
fica difícil proibir esse comércio, mas deveria existir mais fiscalização sobre
a venda a menores de idade, por exemplo. Também seria necessário criar mais
campanhas educativas e permanentes para alertar sobre os riscos do alcoolismo,
como ocorre em relação à aids”, opinou.
A coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Estado da
Saúde (SES), Shirlene Queiroz, também concorda que é preciso fazer um controle
maior sobre a propaganda do comércio da bebida alcoólica. “No Brasil, a cerveja
e o vinho são considerados alimentos e pagam menos imposto. Por isso, são
baratos. Além disso, as propagandas associam o álcool sempre ao prazer e isso
induz o jovem a consumir esse produto, ignorando os riscos causados pelo
excesso”, observa.
“É preciso que ocorram mudanças nacionais e na própria
legislação, para controlar mais a propaganda do álcool, assim como ocorreu com
o cigarro. Sem isso, não adianta nada fazermos campanhas isoladas, dizendo que
o álcool faz mal, se a propaganda continua, sem nenhum controle, influenciando
nossos adolescentes”, observa.
Apesar disso, a coordenadora destaca que o Estado realiza
ações em parceria com municípios para conscientizar a população e combater o
alcoolismo. Na Paraíba, a assistência aos dependentes do álcool é oferecida nos
Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Já são 75 unidades, municipais e estaduais, espalhadas pelas
223 cidades paraibanas. Em comum, todos os locais funcionam com equipe
muldisciplinar, formada por médicos, profissionais da enfermagem, assistentes
sociais, psicólogos, educadores e equipe administrativa.
Em João Pessoa, o governo municipal também oferece auxílio
contra o alcoolismo através do Caps, que funciona no bairro do Rangel. No
local, os trabalhos são oferecidos gratuitamente e de forma sigilosa. Não
existe tempo determinado para o tratamento. A pessoa participa das sessões até
sentir que está curada, como explica a integrante do Núcleo de Saúde Mental da
Secretaria de Saúde de João Pessoa, Ana Karina Almeida.
“No Rangel, o Caps funciona durante as 24 horas do dia. O
serviço é mantido pelo Sistema Único de Saúde e permanece aberto a qualquer
hora que a pessoa precisar de assistência”, ressalta.
Além dos Caps, outro local onde os dependentes podem buscar
ajuda é o grupo de Alcoólicos Anônimos (AA), uma irmandade existente em 150
países, incluindo o Brasil. O trabalho chegou à Paraíba há mais de dez anos e
já dispõe de 200 grupos espalhados pelo Estado, sendo que 70 estão só na região
metropolitana de João Pessoa.
Fonte: Nathielle Ferreira – Jornal da Paraíba
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