Foto: Reprodução Internet
Especialista adverte que o vício em medicamentos
psicotrópicos
pode ser mais difícil de abandonar que o uso de droga.
“Hoje eu sou totalmente dependente do medicamento e não
consigo me imaginar sem ele”. Foi uma decepção amorosa ocorrida há cinco anos
que levou Juliana Mota (fictício), de 30 anos, a se tornar dependente do
medicamento Rivotril (Clonazepam). O vício em medicamentos tarja preta pode ser
mais difícil de abandonar que o uso do crack. A afirmativa é da diretora do
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD) de João Pessoa,
Marileide Martins.
Das 200 pessoas atendidas mensalmente no local, pelo menos
20% apresentam algum tipo de dependência em medicamentos psicotrópicos. O
consumo pode começar aos poucos, para se livrar de uma dor, conseguir dormir ou
esquecer os problemas, mas a dependência química vem logo em seguida.
“Eu tinha um noivo, nós íamos nos casar e eu acabei
descobrindo que ele mantinha um outro relacionamento. Então isso me
desestabilizou emocionalmente, acabou tudo e 'virou a minha cabeça'. Foi quando
eu comecei um tratamento psiquiátrico onde foi receitado o Rivotril. Hoje, eu
tomo um antes de dormir e não consigo viver sem ele”, contou Juliana Mota.
O tratamento foi iniciado com 0,5 miligramas (mg) da
substância e hoje já chega a 2mg. Quando tentou interromper o tratamento por
conta própria, ela foi surpreendida por uma forte irritação. “Eu não consigo
dormir de forma alguma e me sinto muito irritada. Nunca procurei tratamento
para deixa o vício porque não tenho condições psicológicas para isso, por
enquanto o uso não me incomoda”, afirmou Juliana.
No Caps-AD, a morfina, substância extraída do ópio e um dos
analgésicos mais ativos que existem, é o medicamento que apresenta o maior
número de usuários dependentes. Apenas três dias de uso são suficientes para
causar dependência química.
“Nós atendemos muitos viciados em morfina. O paciente sofreu
um acidente, passou dois meses na urgência recebendo esse medicamento e já se
torna dependente. Apenas três dias de morfina são suficientes para causar o
vício. Você quer sempre aquilo e acha que não consegue mais sobreviver sem o
medicamentos”, revelou Marileide Martins.
Uma das pessoas atendidas no Caps é Anderson Andrade
(fictício), que após experimentar a maconha partiu para as drogas lícitas e
permaneceu viciado em medicação de uso controlado por oito anos, o que o tornou
catatônico. O rapaz segue em tratamento há dois anos, mas ainda não conseguiu
se livrar do vício.
“Todo mundo quer remédio, quer acabar com a sua dor. E nossa
cultura infelizmente é assim, qualquer dor que sentimos recorremos a um
remédio. É assim que essas pessoas se sentem”, afirmou Marileide Martins.
Os abusos relacionados ao uso indiscriminado de medicamentos
tarja preta são expressos através de pesquisa realizada pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), que apontou o Clonazepam, tranquilizante de tarja
preta, como sendo o segundo medicamento mais vendido do Brasil durante o ano
passado.
Foram comercializadas cerca de 15 milhões de caixas do medicamento,
que é indicado para casos de síndrome do pânico, ansiedade, distúrbio bipolar,
agorafobia e depressão.
Fonte: Jornal da Paraíba - Michelle Scarione
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