Mateus (fictício) tem 17 anos, mora na cidade de Bayeux, que fica na Região Metropolitana de João Pessoa, e, segundo a família, está marcado para morrer. O motivo é o envolvimento com o mundo das drogas que desde cedo o envolveu, o viciou e o aliciou. Assim como Mateus, pelo menos outras 28 crianças e adolescentes daquela cidade – segundo levantamento dos Conselhos Tutelares do município – estão nessa situação, seja pelo envolvimento com o tráfico de entorpecentes direto ou indireto, facções, ou mesmo a vulnerabilidade em que vivem devido à falta de acesso às políticas públicas.
Para Mateus, a vida nunca foi fácil. Nunca teve muito acesso à educação, por nem sempre encontrar vaga para escola em seu bairro e ficar ocioso, na rua, encontrando companhias que nenhuma mãe iria desejar para seu filho. Por não ser “adotado” por seus pais, Mateus foi adotado pelo tráfico, que deu para ele oportunidades como poder e dinheiro. Em sua casa, o exemplo era esse: o mundo das drogas era a única opção.
Esse envolvimento o levou à primeira ameaça de morte, que chegou ao conhecimento das autoridades públicas. Estas tentaram efetuar a sua proteção, contudo não conseguiram. Muitas das crianças que se enquadram nessa situação, apesar do medo das famílias e da certeza da necessidade de proteção, não se reconhecem nessa fragilidade nem detectam os riscos em que se encontram. “Isso acontece porque eles estão muito envolvidos com esse mundo do crime. São crianças e adolescentes envolvidos com o tráfico de drogas, com disputas de facções. São muitos os casos e são constantes em nossa Promotoria”, revelou Fabiana Lobo, promotora do município de Bayeux.
Vulnerabilidade. É assim que o conselheiro tutelar do setor I do município de Bayeux, Carlos Santos, descreve a situação de praticamente todas as crianças residentes na periferia da cidade e que são vítimas de ameaça. Essa vulnerabilidade pode ser sentida na falta de acesso aos mais diversos direitos, que, de uma forma ou de outra, o tráfico mostra oferecer. “É um celular, uma internet, uma televisão, até alimento. Falta tudo para essas crianças. Da mesma forma, falta profissionalização.
Então elas não têm opção. Dentro de casa o pai é drogado, a mãe também e, muitas vezes, o exemplo e a oferta do que eles precisam vem do tráfico. A ameaça surge nesse caminho”, comentou, revelando uma orientação que costuma dar às famílias. “Eu digo: mães, adotem seus filhos. Porque senão, vem um traficante e adota, só que para o tráfico”, alertou.
Fonte : OTHACYA LOPES/JP
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