sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Abastecimento d'água em Esperança por Rau Ferreira



Ninguém discorda da importância da água para a subsistência do ser humano. Água é vida e seu elemento necessário. Esperança se tornou conhecida no passado não apenas por ser uma cidade verdejante, decantada pelo poeta, como por ser um lugar onde se encontrava tanques, cacimbas, poços, riachos e lagos que captavam as precipitações das chuvas da invernada para os tempos das secas.

Já dizia Irineu Jóffily em 1892, que Esperança possuía muitos olhos d’água obstruídos. A vila de casas surgiu no entorno do Açude Banabuyé, este importante manancial que serviu aos esperancenses durante muitos anos. Mas podemos citar outros importantes reservatórios, como o tanque do Araçá, a Lagoa da Porta, nas proximidades do Campo do América, que igualmente tiveram sua importância no passado.

Não é à toa, que muitas das propriedades denominam-se por lagoas: Lagoa Comprida, Lagoa da Marcela, Lagoa de Cinza, Lagoa de Pedra, Lagoa do Sapo, Lagoa dos Cavalos, Lagoa Verde, Lagoinha das Pedras... apenas para citar algumas delas.
Esperança se assenta sob um grande lajedo, não é a toa que também fora chamada de Tanque Grande; essa formação rochosa é propícia ao acúmulo do líquido tão precioso, que nas camadas mais baixas da terra forma um lençol freático, um verdadeiro açude submerso, que hoje os pesquisadores tanto exploram em outros países, e que no Brasil começa a chegar a ideia da “barragem natural”. Também é evidente, nós sabemos, que basta cavar um pouco em certas áreas do município que dá na água, uma água doce que pode ser consumida sem problemas, sem falar nos diversos usos que dela se pode fazer.

Assim é na rua Alfredo Régis, e também na Juviniano Sobreira, na parte mais baixa, que faz limite com as ruas de Areia e do Boi. Lembro que na casa do meu avô paterno, em frente ao Irineu Jóffily, havia um poço de onde tirávamos água para o gasto diário, além do consumo humano.
A história também conta que os Índios Cariris quando aportaram nessas terras fizeram aldeamento nas proximidades do Tanque do Araçá, pois naquele lugar podiam se abastecer, e dessa forma garantir a própria sobrevivência, valendo-se ainda dos diversos animais que existiam à época, pois tudo aquilo no passado era rodeado por matas.

Por outro lado, não é de hoje que Esperança enfrente o problema da escassez d'água. Na Revista do IHGP de 1911, o autor tratava deste assunto chamando a atenção para uma possível falta d'água no futuro. Dizia que a construção de açudes e o desentupimento dos tanques poderia ser a solução mais viável. Também menciona o extinto Banabuyê “com uma milha de círculo".
Já em 1938 a “Academia Brasileira de Sciencias” registrava a importância deste reservatório colocando-o em 7º lugar na Paraíba, que nos idos de 1940, durante a Era Vargas, foi concluído, com alargamento de seu balde, e na gestão do governador Pedro Gondim, foi reconstruído, incluindo-se a iluminação pública e uma ponte que dava passagem da rua de Baixo (atual rua Dr. Silvino Olavo) para a Beleza dos Campos.

Por esse tempo, era comum as pessoas se banharem no Banabuyé, como também as lavandeiras compareciam com suas trouxas de roupas, motivando um decreto municipal, salvo engano do prefeito Júlio Ribeiro, proibindo essa prática no açude. Dá para imaginar o quanto esta manancial era importante para o nosso povo.

Durante a construção da BR-104, este reservatório forneceu água e serviu para lavar os caminhões da empreitera contratada prejudicado o açude, razão pela qual houve o esgotamento de suas águas.
Muito contribuiu para a sua extinção o crescimento da cidade, com necessidade de terrenos para construção de novas casas, provocando o aterramento de parte do antigo açude.
Nesse aspecto, devemos lembrar o Tanque do Governo, construído em 1944, que fica por trás da Escola Paroquial, e que amenizou o problema d’água por um tempo; e do Chafariz colocado na rua São Vicente, que também fornecia água para a população.

A escassez de água provocou dois fenômenos importantes em nosso município, o primeiro eram os entregadores de água, que forneciam para as casas dos comerciantes, diariamente, abastecendo aquelas residências, em carroças ou mesmo no lombo de jumentos, ficando conhecido as figuras de Adauto Pichaco, Zé dos Burros e outros entregadores. Mas a falta d’água também gerou empregos, pois em tempos de seca a população mais carente era contratada para cavar açudes e barragens na zona rural, serviço que era popularmente chamado de “Cachorra magra”.

A água encanada em Esperança começou a surgir em 1958, através de obras realizadas pelo antigo DNOCS, vindo de Vaca Brava, barragem situada no Município de Areia, e concluída dois anos depois. Contudo, com o crescimento populacional, e outros fatores, já na década de 80, esse serviço se mostrava deficiente, não apenas pela diminuição das chuvas, mas pela própria evaporação, que segundo os técnicos chegava a 10 cm/ dia. Não é demais lembrar que, há 20 anos atrás, chovia em Esperança cerca de 2.000 mm3 de água, e hoje as precipitações estão na casa dos 700 a 1.200 mm. Essa situação provocou a suspensão do fornecimento de água pela concessionária em 1998, o que se repetiu nos anos seguintes, através do chamado racionamento.

Rau Ferreira 


Fonte : Historia Esperancense

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