O Brasil é o vice-campeão mundial na realização de cirurgias
bariátricas, registrando um aumento de 350% entre 2003 – quando foram feitas 16
mil operações – e 2011, com 72 mil. O País perde apenas para os Estados Unidos,
que realizam cerca de 300 mil intervenções, anualmente. Na Paraíba, a
estimativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)
é de que 2% da população – 76 mil pessoas – tenham obesidade mórbida.
Com sobrepeso, seriam 40%, percentual que representa mais de
1,5 milhão de paraibanos. Em João Pessoa, conforme dados da Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico
(Vigitel 2011), 49,8% da população com idade a partir de 18 anos estão com
excesso de peso, e 14,2% são obesos. No Brasil, estima-se que existam 6 milhões
de pessoas com obesidade mórbida.
Três fatores são apontados pela SBCBM como responsáveis pelo
aumento no número de cirurgias. Em primeiro lugar, o crescimento no índice de
obesos mórbidos. Há uma relação direta entre o aumento do número de obesos e de
cirurgias, embora o quantitativo não cresça na mesma proporção; depois, a
evolução das técnicas nos últimos anos – hoje, em muitos casos, a cirurgia é
feita através da videolaparoscopia, ou seja, não é preciso abrir o paciente;
por último, desde o início do ano os planos de saúde são obrigados a cobrir o
procedimento, o que melhorou o acesso da população.
“O Brasil tem um alto índice de pacientes com sobrepeso e
obesidade mórbida; o governo federal deu apoio para a realização da cirurgia
pelo Sistema Único de Saúde (SUS); os médicos estão mais capacitados. Tudo isso
também contribui para o aumento no número de cirurgias”, destacou o cirurgião
do aparelho digestivo Marcelo Gonçalves, coordenador do Serviço de Cirurgia
Bariátrica do Hospital Santa Isabel e membro da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Para ele, a obesidade é preocupante, porque acarreta vários
problemas de saúde no paciente como diabetes, infarto, Acidente Vascular
Cerebral (AVC) e até câncer. “Não são todas as pessoas acima do peso que
poderão fazer a cirurgia. Esta necessidade passa por uma equipe de
especialistas como fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, cirurgião,
clínico. Além disso, cada caso tem que ser avaliado individualmente”,
ressaltou.
Perder peso é difícil, dizem obesos
A vendedora de frutas Rosilene Belarmino, 29 anos, não sabe
o que fazer para perder peso. Com 1,55m de altura e pesando 110 kg, ela disse
que já desenvolveu problemas cardíacos, mas não consegue perder peso. “Nunca
tentei dieta, nem exercícios e também não procurei um médico por falta de
tempo. A única coisa que faço é diminuir a quantidade de comida, mas gosto
muito de massa e acho que esse é o principal problema”, relatou.
Situação semelhante é a do comerciante Gilliard de Freitas,
29, que mede 1,60m e pesa 102 kg. Ele também trabalha o dia todo e é adepto dos
lanches mais calóricos, como coxinha e pastel. “Nunca fui ao médico, nem faço
regime, mas sei que preciso emagrecer para o meu próprio bem”, admitiu.
A situação de Rosilene e Gilliard é preocupante. Conforme um
cálculo simples do Índice de Massa Corporal (IMC), que divide o peso pela
altura ao quadrado, o IMC dela é 45. O número significa obesidade mórbida. É o
mais alto grau. O peso ideal da jovem deveria estar entre 44 kg e 60 kg. No
caso de Gilliard, que tem obesidade severa, o peso em conformidade com a altura
deveria variar entre 47 kg e 64 kg.
Dietas sem orientação afetam a saúde
O Conselho Federal de Medicina diz que pessoas com IMC acima
de 40 podem se submeter a uma cirurgia bariátrica. Aquelas que têm índice
abaixo disso, também podem entrar nessa fila, caso apresentam co-morbidade, ou
seja, doenças como diabetes e hipertensão. “Quando a vida corre risco, a
cirurgia pode salvar vidas. E se não acontecer, a expectativa de vida vai
diminuindo”, ressaltou o endocrinologista João Modesto.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a
intervenção também implica em riscos. O paciente precisa ter condições
psíquicas de enfrentá-la. Para isso, tem que ser bem avaliado por uma equipe
composta por endocrinologista, nutricionista, psicólogo, educador físico num
trabalho conjunto.
O especialista alerta que dietas simples, sem
acompanhamento, não são balanceadas e podem causar carência de vitaminas e
aminoácidos essenciais. O sistema imunológico fica incapaz de reagir, o
organismo fica fragilizado, a taxa de ferro cai e a pessoa pode desenvolver um
quadro de anemia.
Quem quer perder peso não precisa recorrer às dietas
milagrosas que fazem emagrecer rapidamente, mas podem afetar a saúde. Uma dieta
saudável deve começar pela reeducação alimentar. Para isso, deve-se modificar
os hábitos alimentares, evitando alimentos calóricos, gordurosos, ricos em
carboidratos, refinados, doces e derivados, como aconselha a nutricionista
Heloísa Helena Espínola.
Mitos e verdades
Mitos e verdades
Em um ano de pós-operatório, o paciente normalmente engorda.
Mito.
Na maioria dos casos, o ganho de peso ocorre quando o
paciente não assume hábitos saudáveis, como a adoção de dieta menos calórica e
mais nutritiva e a prática de exercícios
físicos regulares.
Perde-se mais peso nos primeiros seis meses.
Verdade.
A perda mais significativa de peso ocorre nos primeiros seis
meses. Daí a importância de o paciente seguir com disciplina as recomendações
médicas nessa primeira etapa do pós-operatório.
Quem faz a cirurgia bariátrica fica propenso a alcoolismo,
uso de drogas ou comportamento compulsivo para compras.
Mito.
Não existe nenhuma evidência científica de que, no
pós-operatório, o paciente comece a ter tendência ao alcoolismo ou ao uso de
drogas.
Quanto à compulsão por compras, pode-se evitar um comportamento desse
tipo por meio de acompanhamento psicológico. A evolução histórica das cirurgias
mostra que o paciente, ao perder peso, resgata a autoestima e por isso passa a
ter prazer em adquirir roupas e outros produtos de uso pessoal.
A mulher pode engravidar no pós-operatório.
Verdade.
A paciente é liberada para engravidar sem riscos após 15
meses de pós-operatório. Durante esse período, recomenda-se a anticoncepção. No
entanto, os anticoncepcionais orais (pílulas) devem ser evitados.
Sempre é possível fazer a cirurgia videolaparoscópica.
Verdade.
Somente em situações especiais não é possível realizar esse
tipo de cirurgia. É o caso, por exemplo, de pessoas submetidas a cirurgias
abdominais prévias.
A depressão é uma consequência comum para quem faz a
cirurgia.
Mito.
Não existe uma tendência. Se o paciente ficar deprimido,
isso pode ocorrer devido a fatores desconhecidos, que devem ser investigados
por psicólogo ou psiquiatra.
Há tendência à anemia no pós-operatório.
Verdade.
De fato isso ocorre. Entre os pacientes, as mulheres têm
maior tendência à anemia, por causa da menstruação, perda de ferro e pouca
presença de carne vermelha na dieta. Essa situação pode ser minimizada com a
ingestão de alimentos ricos em ferro, ou, se necessário, com a utilização de
suplementos vitamínicos.
Depois da operação, é comum a intolerância a leite.
Mito.
Normalmente não há reações adversas ao consumo de leite e
derivados. Esses alimentos são, inclusive, recomendados, sobretudo para as
mulheres, como fontes de cálcio.
O apoio da família e à família é indispensável.
Verdade.
Deve-se prestar toda a assistência e orientação à família do
paciente, oferecendo o máximo de informações solicitadas e, quando necessário,
também consulta psicológica. Os novos hábitos a serem adotados pelo paciente
devem ser compartilhados e estimulados por todos que convivem com ele.
A cirurgia causa problemas renais.
Mito.
Não foi observada tendência a problemas renais.
O paciente sente muitas dores no primeiro mês do
pós-operatório.
Mito.
Normalmente, as dores se manifestam somente no primeiro dia
do pós-operatório. Isso acontece porque o abdômen precisa ser inflado com gás
carbônico na cirurgia por videolaparoscopia, para possibilitar a melhor
manipulação dos órgãos internos.
O paciente que sofre de gastrite pode ser operado.
Verdade.
Não há restrição cirúrgica para paciente com gastrite.
Depois da cirurgia bariátrica, o paciente deve fazer
cirurgia plástica corretiva.
Mito.
Nem sempre é necessário fazer cirurgia plástica após o
procedimento bariátrico. Cada caso deve ser avaliado criteriosamente pela
equipe multidisciplinar responsável pelo tratamento.
Durante a videolaparoscopia, há situações em que é preciso
converter a cirurgia em procedimento aberto.
Verdade.
Algumas situações exigem que o cirurgião converta a
videolaparoscopia em procedimento aberto. Essa decisão é baseada em critérios
de segurança e só pode ser tomada durante o ato operatório.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica (SBCBM).
Fonte:Lucilene Meireles do Jornal Correio da Paraíba
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