quarta-feira, 9 de março de 2016

VII Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia leva milhares à cidade de Areial-PB no dia internacional da mulher



A sétima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia atraiu um público de mais de cinco mil pessoas à cidade de Areial, no Agreste Paraibano, nesta terça-feira, 08 de março, Dia Internacional da Mulher. O município faz parte dos 14 onde o Polo da Borborema (uma articulação de 14 sindicatos rurais) atua em parceria com a AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
A programação da Marcha teve início a partir das 8h30, onde as caravanas que iam chegando se concentraram em um palco montado no Campo do Cruzeiro, no Sítio Areial II. Após recepcionar as caravanas, trazidas por mais de 70 ônibus dos municípios de onde o Polo atua e de outras regiões do estado, a coordenação da marcha fez a abertura oficial do evento.
Zeneide Grangeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Areial, deu as boas vindas aos participantes e reafirmou a importância de marcar o dia 08 de março como um dia de luta: “Nesse dia a gente vem aqui reivindicar nossos direitos, que muitas vezes são negados, quando a violência nos atinge. Viemos aqui também para que o nosso projeto de agroecologia seja reconhecido e valorizado pela sociedade”, disse. Zeneide lembrou ainda a trajetória da dirigente sindical Margarida Maria Alves, de Alagoa Grande-PB, assassinada com um tiro no rosto em 1983, por ter sido uma mulher combativa à frente do seu sindicato e de ter despertado a ira de latifundiários e usineiros poderosos da região. Sua morte trágica e cruel a tornou um símbolo da luta das mulheres rurais.
Após a abertura, foi apresentada a uma peça encenada pelo Grupo de Teatro Amador do Polo da Borborema. O espetáculo que retrata o dia-a-dia de uma família de agricultores, onde as mulheres sofrem diversas formas de violência, do filho (Tonho) e do marido e pai (Biu), já é parte da programação de todas as edições da marcha. Em 2016, a peça teve como título: “Acorda, Biu!”, os papéis foram invertidos e Biu e Tonho se viram na pele de Margarida (esposa e mãe) e Zefinha (filha), sendo oprimidos pelas mulheres, no que na verdade, descobre-se no final, é um pesadelo de Biu. A história foi inspirada no curta-metragem “Acorda, Raimundo, acorda!” do diretor Alfredo Alves, de 1990.
Após a peça, Marizelda Salviano, da direção do Sindicato de Esperança e da Comissão de Saúde e Alimentação do Polo, ajudou as mulheres fazerem uma rápida reflexão sobre os papéis atribuídos a homens e mulheres e sobre a importância deles serem desconstruídos no sentido de termos cada vez mais as tarefas domésticas e a criação dos filhos como uma responsabilidade que deve ser compartilhada por igual entre homens e mulheres. A agricultora do município de Esperança, Ligória Felipe dos Santos deu forte testemunho de como esses padrões estabelecidos e a violência doméstica marcam a vida das mulheres.
Roselita Vitor, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da coordenação do Polo da Borborema, falou então sobre a conjuntura atual de ameaça a direitos das mulheres e também de ameaça à própria democracia, para isso perguntou as mulheres presentes: “Nos últimos 12 anos a vida de vocês melhorou? Quantas aqui já passaram fome ou sede na sua história? Quantas de vocês já foram obrigadas a beber água barrenta porque não tinha outra? Quantas foram obrigadas a buscar água a quilômetros? E hoje? Quem tem cisterna de água de beber na porta de casa? Quem tem filho a universidade? Vocês acham que essas mudanças foi um produto de um processo natural ou foram obras de mudanças políticas importantes?, tentou analisar com as mulheres. “A gente que é agricultora, sabe o quanto esse país mudou, e sabe também que o que mudou não foi obra do destino. Estão dizendo por aí que a corrupção nasceu agora e só vem de um partido, e que para ela acabar tem que tirar esse partido do poder. Mas a gente sabe que não é bem assim. É preciso respeitar o voto do povo brasileiro que elegeu uma presidente para governar, é preciso aprender a ver o que tem debaixo das cortinas. Vamos cruzar as nossas fontes de informação para não nos deixar influenciar por uma mídia que só mostra o que ela quer”, completou.
Finalizando a concentração, a convidada especial da Marcha em 2016, a cirandeira Lia de Itamaracá, acompanhada das também cirandeiras Severina e Dulce Baracho, fizeram uma saudação às participantes e fizeram uma demonstração do que seria o show de logo mais no encerramento. A cirandeira falou sobre a realidade da violência contra a mulher: “Eu nunca vi tanta mulher se acabando a preço de banana podre como agora, isso precisa acabar. O homem precisa saber que quem casa tem que querer uma mulher, e não uma empregada, uma filha. Se não quer, deixa, mas não maltrata”, afirmou.
Logo após esse momento, as mulheres e os homens saíram em marcha, acompanhados por dois minitrios rumo ao Centro de Areial, fazendo um percurso de dois quilômetros pela rodovia PB-121. No meio do caminho, a Comissão de Juventude do Polo da Borborema, chamou a atenção de quem marchava para uma encenação, onde diversas mulheres jovens segurando placas e cruzes pretas com dizeres pelo fim da violência contra a mulher caminharam ao encontro da marcha. As jovens com maquiagem que simulavam ferimentos frutos de agressões caiam a cada batida de um tambor após a leitura de um novo dado sobre a violência. As jovens caíram até que todas estivessem no chão, simbolizando todas as mulheres assassinadas pelo machismo.
Chegando em Areial, a marcha tomou a Praça Teotônio Barbosa e as redondezas, onde um segundo palco e uma feira montada com experiências e produtos da agricultura familiar produzidos pelas mulheres esperava pelas participantes. A feira reuniu um expressivo número de mulheres de todas as idades, a exemplo da agricultora Letícia dos Santos Paiva, de 18 anos, do Sítio Lagoa do Sapo, em Esperança-PB, ela produziu e trouxe para a feira bolos, beijus, tapiocas e cocadas, além de plantas ornamentais: “O beiju e a tapioca foram os primeiros que acabaram”, contou a jovem, que trabalha na terra com a mãe.
Na praça, Lia de Itamaracá brindou os participantes com um show cheio de animação, com muita ciranda e coco de roda. A artista, que tem 60 anos de carreira, veio acompanhada por sua banda composta por nove músicos, incluindo o seu coro, com as cirandeiras conhecidas como “As filhas de Baracho”, tido como o “Rei da Ciranda”. Após o show, foi aberta a palavra para mulheres representantes de outros movimentos de mulheres convidados como o GT de Mulheres da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), o Movimento de Mulheres Trabalhadores Rurais do Nordeste, a Secretaria de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores da Paraíba (CUT-PB) e a Marcha Mundial de Mulheres.
O encerramento da Marcha foi feito com uma mística que trouxe a figura da mãe terra, semeada e regada há séculos pelas mãos das mulheres agricultoras. Ao som da música “Canção da Terra”, de Pedro Munhoz, as mulheres cercaram a mãe terra com símbolos como a semente, a água, o alimento, o estandarte que carrega as bandeiras de luta, enquanto faziam isso, foram recitados os nomes de diversas mulheres lutadoras do presente e do passado que marcaram a história da luta por direitos e igualdade de gênero. E por fim, em uma grande ciranda, os participantes deram mais uma vez as mãos e saudaram a continuidade da luta: “A próxima marcha já começou!”.
Assessoria

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