segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Crise e ideologia fazem classe média voltar à escola pública no Brasil



A decisão foi motivada por uma combinação de fatores.
Por trabalhar na área de gestão escolar, Julia sabia que, apesar do sistema de ensino público brasileiro ainda ter inúmeros problemas, algumas escolas estão há algum tempo avançando na questão da qualidade – e que, perto da sua casa, em um bairro de classe média do Rio de Janeiro, havia vagas sobrando em uma instituição municipal com notas altas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb, criado em 2007 para medir a qualidade do ensino da rede pública).
Além disso, Julia queria que a filha fosse educada em um ambiente mais inclusivo e de mais diversidade. “Queria que ela desenvolvesse um senso de justiça, igualdade e cidadania”, diz.
Dois anos mais tarde, a carioca diz estar tão satisfeita com a decisão que também pretende matricular seu filho mais novo, hoje em uma creche privada, em uma escola pública.
“Até por trabalhar nessa área, há algum tempo eu já havia entendido que não é porque uma escola é pública que ela é ruim – e não é porque é privada que é boa”, diz Julia.
E esse não parece ser um caso isolado.
Seja em função da crise econômica ou por, digamos, questões ideológicas ligadas a convicções pessoais – como essa busca por um ambiente educacional mais inclusivo e diverso –, está cada vez mais comum encontrar famílias de classe média que colocam os filhos em escolas públicas.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, de 2010 a 2015 a participação de estudantes provenientes de escolas privadas na rede pública do Rio subiu de 5,15% para 11,12%.
E só em 2015 o número de matrículas desses egressos da rede particular – em geral crianças de classe média – teria crescido 11,6%.
Em São Paulo, nos últimos cinco anos o número de alunos que passam da rede particular para a pública aumentou cerca de 30%, segundo a Secretaria de Educação, com o total de matrículas de crianças provenientes de escolas privadas saltando de 151,2 mil, em 2011, para 195,7 mil em 2015 (até agosto).
Estatísticas
Mas isso quer dizer que existe um fenômeno massivo de migração da rede privada para a pública? Não necessariamente.
Na realidade, como ressaltou recentemente um estudo de pesquisadores da UFRJ, dados do Censo Escolar do Inep (órgão de pesquisas ligado ao Ministério da Educação – MEC) sugerem que, ao menos até 2014, ocorreu o contrário. Ou seja, o número de matrículas na rede privada aumentou mais que o da rede pública no Brasil e em Estados como Rio e São Paulo.
“De fato não temos o controle sobre quantos alunos fizeram o caminho contrário, indo da escola pública para a privada”, admite Andrea Grecco, responsável pelo Departamento de Matrículas da Secretaria de Educação de São Paulo.
 Fonte : Terra

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