sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Papa e patriarca da Igreja Ortodoxa Russa terão encontro



A simples escolha do local da reunião entre Francisco e Kirill carrega o forte simbolismo da aproximação. Segundo Metropolitan Hilarion Alfeyef, chefe do Departamento de Relações Externas da Igreja Ortodoxa Russa, Cuba foi eleita pelo fato de a Europa “estar ligada a uma dura história de divisões e conflitos entre cristãos”. Por meio de um comunicado conjunto assinado ontem, católicos e ortodoxos sublinharam a importância do evento. “Esse encontro… É o primeiro desse tipo na história, e marcará um importante marco nas relações entre as duas Igrejas”, afirma o texto. “A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou esperam que ele seja também sinal de esperança para todos os homens de boa vontade.”
O italiano Marco Eugenio Tossatti, vaticanista e jornalista especializado em temas religiosos do diário La Stampa (em Turim), vê a reunião de hoje como um “gesto muito importante” das duas igrejas. “É significativo porque, todas as vezes em que a possibilidade de um encontro era debatida, a Igreja Ortodoxa Russa sempre condicionava isso à resolução de problemas, especialmente a situação da Igreja Ortodoxa Grega na Ucrânia e da Igreja Greco-Católica — ligada ao Vaticano e perseguida pelo ditador Josef Stalin (1922-1953)”, explicou ao Correio.
Ele sublinha que o fato de o encontro ocorrer sem condições prévias é sinal de que a Igreja Grego-Católica é aceita pela Ortodoxa Russa. “Não creio que vamos testemunhar grandes discursos amanhã (hoje). No entanto, um encontro entre o patriarca e o papa, depois de mil anos, por si só é algo histórico”, disse Tosatti.
Por telefone, desde a capital russa, Alexander Baunov — especialista do Carnegie Moscow Center e editor-chefe do site Carnegie.ru — afirmou considerar o evento como “histórico para o cristianismo na Europa e no mundo”. “Essa reunião foi adiada em várias ocasiões. As duas igrejas começaram a dialogar alguns séculos atrás. Os patriarcas de Constantinopla e da Grécia chegaram a se encontrar com o papa, durante a década de 1960”, lembrou.
De acordo com Baunov, o papa João Paulo II tentou restabelecer a ponte entre as igrejas de Roma e de Moscou, mas as autoridades do Kremlin rejeitaram uma reunião com Karol Wojtyla, ao expor vários obstáculos. À época, a Igreja Ortodoxa Russa acusou os católicos de se engajarem numa política expansionista. “Desde os anos 1990, a Rússia tem demonstrado temor ante o aumento de fiéis e a presença da Igreja Ortodoxa Grega no oeste da Ucrânia. Por isso, o presidente Vladimir Putin estimulou o encontro em Havana.” Enquanto a Igreja Católica conta com 1,2 bilhão de fiéis, a Igreja Ortodoxa Russa mantém cerca de 130 milhões de seguidores.
“É claro que a reunificação das igrejas não faz parte da agenda”, frisou Baunov, ao explicar que qualquer união real ou reconciliação canônica provocaria cisma dentro da Igreja Ortodoxa Russa. O analista russo reconhece que, apesar de as igrejas do Ocidente cultivarem postura amigável em relação aos ortodoxos, os russos tratam os católicos com bastante cautela e uma certa suspeita. Para Baunov, Putin respalda a reaproximação histórica por entender que a Rússia tem contribuído com a tradicional identidade cristã. “Os povos cristãos do Oriente Médio enfrentam uma tragédia. Putin e o papa Francisco tentam salvá-los. Trata-se de uma política de relações-públicas de Moscou: proteger os cristãos, assim como o Império Russo ante a ameaça islâmica, durante os séculos 18 e 19.”
Fonte : Correio Braziliense

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